Neste artigo, você vai entender quais motivos têm influenciado a desvalorização do real no mercado.
Os primeiros seis meses da economia brasileira surpreenderam positivamente. Com a divulgação do IBC-Br de junho e o resultado positivo no mês (1,14%), o semestre fechou com alta de 7,01%, levando o índice de 12 meses a 2,33%, números robustos que não eram esperados há um ano.
Contudo, tudo isso já é “olhar para o retrovisor”, pois uma onda de pessimismo vem tomando conta dos agentes de mercado para o seguimento deste ano e, principalmente, para o ano de 2022. Vamos analisar quais são os principais fatores que dão base para esta visão, mesmo após um semestre bom.
Auxílio Brasil
O principal problema observado pelo mercado é a falta de compromisso do governo com a austeridade fiscal. Sendo assim, dois fatores são preocupantes: primeiro, o valor do Auxílio Brasil.
O valor esperado, quase três vezes o pago pelo Bolsa Família, traria estragos consideráveis ao orçamento brasileiro, já tão combalido com os auxílios à pandemia.
Vale lembrar que o programa é positivo e foi um sucesso ao tirar muitos brasileiros da linha da pobreza, mas se não respeitar o teto de gastos, pode causar desinvestimento, desemprego e inflação, o que o tornaria inútil.
Precatórios
Em relação ao fiscal, outro anúncio que preocupa o mercado é o parcelamento dos precatórios.
Para quem não conhece, pela definição do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP), os precatórios são “requisições de pagamento expedidas pelo Judiciário para cobrar de municípios, Estados ou União, assim como de autarquias, fundações e universidades, o pagamento de valores devidos após condenação judicial definitiva”.
O governo anunciou que tentaria, unilateralmente, parcelar essa dívida em até dez anos, sob algumas condições. E o pior: pretende, deste modo, extrair essas dívidas do teto para que coubesse um aumento do programa Renda Brasil.
Estas ações levaram o mercado a desconfiar do compromisso do governo com a responsabilidade fiscal – e as taxas de juros cobrados para aquisição de títulos do governo subiram com força.
Com a alta, o crescimento futuro fica comprometido. O ano eleitoral de 2022 e a baixa da popularidade do presidente reforçam o temor.
Inflação
Há outro fator que torna ainda mais incertos o cenário e a persistência da inflação. Como já tratamos no artigo anterior, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 12 meses está em 9%, valor que começa a ser sentido pelos agentes econômicos na perda do poder de compra.
A desconfiança com o lado fiscal alimenta a ideia de que o governo não usará política fiscal para combater o processo inflacionário, sobrando todo o trabalho para a política monetária.
Com isso, o custo em termos de crescimento do combate à inflação será muito maior, dado que o Banco Central (BC) terá de aumentar muito os juros. A declaração, a interlocutores, do presidente, que há um “arrependimento” sobre ter enviado e incentivado o projeto sobre a independência do BC reforça a tese.
A inflação alta ainda atinge outra debilidade da economia brasileira: o mercado de trabalho. O número de desempregados, em torno de 15 milhões, não diminuiu e ainda se mantém no auge desde a pandemia.
Como se não bastasse tudo isso, a inflação alta e o mercado deprimido achatam a renda real, que não para de cair. Este cenário afasta um cenário de crescimento mais robusto dos serviços e do varejo, mesmo com o avanço da vacinação. A subida dos juros, então, reforça esta tendência negativa.
Desvalorização do real
Todos estes riscos podem ser medidos pela desvalorização do real, mesmo com um saldo extremamente positivo no balanço de pagamentos e taxa Selic em pleno processo de aumento. Os estrangeiros estão desconfiados e não querem trazer recursos para o País. E o malfadado projeto de mudança do Imposto de Renda (IR) ajudou na retração.
Alguns fatores exógenos ao governo também são importantes para entender o mau humor. A crise hídrica, cada vez mais grave, afeta tanto a inflação como os investimentos em produção, ao passo que o aumento da transmissão da variante delta ameaça as economias desenvolvidas – e pode desembaraçar no Brasil, com força, no próximo mês.
Em suma, os agentes vêm diminuindo suas expectativas para o crescimento nacional tanto no segundo semestre quanto em 2022. O governo pode reverter ainda o cenário, mostrando um compromisso fiscal mais rígido e transparente e diminuindo a temperatura da fervura nas crises institucionais. Assim, o trabalho do BC em debelar a inflação fica menos intenso, e a confiança do setor privado retorna. Como o mercado não vislumbra nada nesta direção, a deterioração das expectativas avança.
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