É nesta época do ano, geralmente, que os lojistas realizam as tradicionais liquidações de inverno e começam a programar a produção para a venda no final do ano.
Em meio a uma pandemia, com inflação e juros em alta, a grande dúvida dos comerciantes é como deve se comportar o consumidor neste segundo semestre.
Com base nos últimos dados do varejo, divulgados pelo IBGE, Fábio Bentes, economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio), dá algumas pistas.
Com o avanço da vacinação, de acordo com ele, é muito provável que o segundo semestre deste ano seja melhor do que o primeiro, com alguns destaques.
Neste semestre, dois dos setores que sofreram com a pandemia, o de vestuário e o automotivo, devem crescer 11% e 5,1%, respectivamente, sobre igual período de 2020.
As lojas de material de construção, móveis e eletrodomésticos e os supermercados já devem registrar queda de vendas de 1,2%, 10% e 2,2%, respectivamente, no período.
“Os setores que se deram mal com a pandemia, tendem a recuperar parte do terreno perdido”, afirma Bentes.
Ninguém vai nadar de braçada, diz ele, mas o cenário é melhor, se não houver, claro, novas variantes do coronavírus e, como consequência, novas restrições de circulação.
COMPARAÇÃO COM 2019
Muitos empresários preferem ignorar 2020, um ano atípico, e considerar os números de 2019 na hora de fazer conta e programar as vendas para este ano.
Neste semestre, de acordo com Bentes, as vendas de veículos e de combustíveis ainda devem ser menores do que as de igual período de 2019, com quedas de 0,5% e 7,2%, respectivamente.
As vendas de supermercados, material de construção e móveis e eletrodomésticos já devem crescer 4,2%, 21% e 8%, respectivamente, em relação a igual período de 2019.
O setor de farmácia e perfumaria é o que deve registrar crescimento neste semestre nas duas bases de comparação: alta de 3,9% sobre 2020 e de 17,1% sobre 2019.
Na dúvida, com 34 lojas, a rede MOB, especializada em moda feminina, decidiu reduzir em 30% o número de modelos e 20% a produção em relação a 2019.
Ângelo Campos, sócio-diretor da rede, nota reação nas vendas, e diz que as lojas de rua estão tendo melhor desempenho do que as de shopping com a liquidação.
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“A economia está mais movimentada, até porque há mais mobilidade de pessoas, o que é muito importante para o comércio”, afirma Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Agora, diz ele, os comerciantes precisam se ajustar às mudanças. “Nem todos têm como solução o e-commerce. O comércio de bairro precisa explorar a vizinhança.”
Além de perderem vendas, em razão do fechamento das lojas, muitos lojistas perderam clientes. “É o momento de usar a criatividade para reconquistar a clientela.”
A recuperação de parte do comércio neste segundo semestre será, em boa medida, baseada no crédito, de acordo com Fábio Silveira, sócio-diretor da MacroSector.
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O crédito já está expandindo, diz ele, para a compra de bens de menor valor unitário.
Apesar da crise, o crédito para a pessoa física cresceu 11% no ano passado, de acordo com dados do Banco Central (BC), e deve crescer mais 14% neste ano, segundo as projeções de Silveira.
“Não existe recuperação econômica, se não tiver a recuperação do comércio”, diz ele.
Agora, os obstáculos ao crescimento do varejo, de acordo com Bentes, são inflação e juros, que estão em movimento de alta.
A Selic, a taxa básica de juros da economia, de 6,75% ao ano, deve bater em 7%, o que é inibidor das compras a prazo.
A expectativa do mercado financeiro para a inflação deste ano é próxima de 6%, de acordo com a pesquisa Focus do BC.
Se os preços sobem, a renda disponível para o consumo cai.
A massa real de rendimento do brasileiro no período de fevereiro a abril deste ano caiu 5,4% em relação a igual período de 2020.
Para Silveira, diante deste cenário, o país ainda está longe de ter uma economia em ritmo normal, mas caminha para que isso ocorra a partir de 2022.
“Olhando para o comércio, dá para dizer que os ventos são favoráveis, mas o céu ainda está sujeito a trovoadas, especialmente se aparecer novas variantes do coronavírus.”
Diário do Comércio